Após quatro meses de queda, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) voltou a crescer no país. Nos últimos meses, as famílias do país ainda se mostravam dispostas a manterem seus hábitos de consumo, mas o ímpeto estava bem mais moderado que antes, refletindo um situação um pouco menos confortável da economia brasileira.
Contudo, em abril deste ano, o ICF aumentou 0,4% na comparação com março, eliminando parte da queda observada naquele mês (-0,8%). Com isso, o indicador chegou a 103,1 pontos, após ajuste sazonal.
Apesar das recentes quedas, observadas entre dezembro de 2023 e março deste ano, o indicador segue acima da marca de 100 pontos, que separa o otimismo e o pessimismo. Em suma, taxas maiores que essa marca indicam que a intenção de consumo das famílias está positiva, na zona de otimismo. Por outro lado, dados inferiores a 100 pontos refletem pessimismo dos consumidores.
Cabe salientar que o ICF vem se mantendo acima de 100 pontos nos últimos meses, algo que não era visto há anos. A saber, antes de 2023, o indicador havia chegado à zona de otimismo apenas em 2015, e isso voltou a acontecer em agosto de 2023, após um intervalo de mais de oito anos, e vem se mantendo positivo desde então.
Todos esses dados fazem parte do levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em agosto, os consumidores se mostraram ainda mais otimistas com a recuperação econômica do Brasil neste ano, e isso se refletiu na variação do ICF.
Inflação cresce e endividamento segue elevado no país
Segundo o levantamento, a melhora dos dados relacionados à inflação ajudou a impulsionar a intenção de consumo dos brasileiros nos últimos meses. Entretanto, a taxa inflacionária controlada não está conseguindo impulsionar de maneira significativa o ICF em 2024.
Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,16% em relação a fevereiro. A variação desacelerou fortemente na comparação mensal, visto que a taxa inflacionária havia subido 0,83% em fevereiro. A propósito, a desaceleração ocorreu devido ao grupo educação, cujos preços haviam disparado 4,98% em fevereiro, mas em março avançaram apenas 0,14%.
Vale destacar que o IPCA é a inflação oficial do Brasil, ou seja, é o termo que se refere ao aumento generalizado dos preços de produtos e serviços. Como o indicador acelerou no mês passado, houve a sinalização de queda na intenção de consumo das famílias.
Além disso, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que 78,1% das famílias do país possuíam alguma dívida em março deste ano, percentual superior ao de fevereiro (77,9%).
“A disponibilidade de crédito desempenha um papel importante no consumo das famílias e, consequentemente, aquece a economia como um todo“, afirmou o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
No entanto, ele alertou para a desaceleração do saldo de concessões de crédito observada ao longo dos últimos 12 meses. Isso mantém a atenção do varejo, visto que os consumidores gastam mais se houve mais liberação de crédito.
Veja o que impulsionou a intenção de consumo em abril
O indicador de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) possui sete componentes. Em abril, seis deles registraram taxas positivas, impulsionando o resultado mensal do indicador para baixo. Confira abaixo os resultados percentuais mensais:
- Nível de consumo atual: 1,4%.
- Perspectiva de consumo: 1,4%;
- Acesso ao crédito: 0,9%;
- Emprego atual: 0,5%;
- Perspectiva profissional: 0,2%;
- Renda atual: 0,2%;
- Momento para duráveis: -0,4%;
A CNC explicou que a intenção de consumo das famílias segue crescendo na comparação anual. Entretanto, o avanço observado em abril (6,1%) foi mais fraco que o registrado em março (7,7%), apontando para a desaceleração do indicador.
“As melhores taxas de juros para as pessoas físicas neste início de ano, alcançando o menor patamar em fevereiro deste ano desde junho de 2022 (52,5%), estão sendo acompanhadas pela menor inadimplência dos consumidores (5,5%), retornando ao nível de julho de 2022. O melhor desempenho da disponibilidade de crédito desempenha um papel importante no consumo das famílias e contribui para a retomada do indicador“, destacou a CNC.
Emprego atual segue com a taxa mais elevada
Cabe salientar que, entre os sete componentes, quatro deles apresentaram taxas superiores a 100 pontos em abril, sinalizando o otimismo dos consumidores em relação a estes índices:
- Emprego atual: 126,5 pontos;
- Renda atual: 123,7 pontos;
- Perspectiva profissional: 114,6 pontos;
- Perspectiva de consumo: 106,7 pontos.
Por outro lado, as demais taxas permaneceram na zona de pessimismo, resultado que ficou um pouco melhor em abril com a alta da maioria dos indicadores. Enquanto os componentes de acesso ao crédito (94,1 pontos) e nível de consumo atual (88,8 pontos) estão com taxas um pouco próximas de 100 pontos, a situação mais crítica continua com o componente momento para duráveis (67,1 pontos), ainda mais por ter registrado queda no mês.